Falta
O meu problema é que eu sinto saudade.
De uma ex? Não.
De um lugar? De uma viagem? Não.
De alguém que morreu? Talvez.
Eu sinto falta de quando a vida era mais fácil.
De quando minhas únicas preocupações eram quais iam ser as aulas de educação física pra eu poder jogar bola.
Eu sinto falta de quando o meu sofrimento era ridículo.
Uma rejeição de colegial.
Esquecer um livro embaixo da carteira.
Eu sinto falta de quando eu via meus amigos todo dia.
Hoje, pra eu conseguir ver eles, eu tenho que protocolar uma petição em três dias com a assinatura da esposa.
Eu sinto falta de quando a vida era leve.
Era pacífica.
Era boba.
Eu sinto falta de confiar nas pessoas.
De ser menos cínico, menos azedo.
Eu sinto falta de quando eles achavam que depressão dava só tristeza.
Hoje eu sei que essa raiva que eu carrego é doença também.
Eu sinto falta de quando eu acreditava quando alguém dizia vai melhorar.
Eu tô aqui com você, a gente passa por isso junto.
Eu sinto falta de acreditar.
Eu sinto falta da fé.
Eu sinto falta do meu sono sem remédio.
Eu sinto falta de sentir prazer nas coisas pequenas.
E sinto falta de sentir prazer nas coisas grandes.
Eu sinto falta de sentir.
Eu sinto falta de quando dor e rotina não eram sinônimos.
Mas, acima de tudo, eu sinto falta de mim mesmo.
Eu sinto falta da criança alegre.
Eu sinto falta do adolescente ousado.
Eu sinto falta do jovem adulto, cheio de inspirações e sonhos.
Eu sinto falta de como eu era.
Eu sinto falta.
Eu sinto falta de como eu sou.
Eu sinto falta de como eu podia ser.
Quem eu sou odeia quem eu tenho sido.
E é difícil esquecer.
Eu sinto falta de mim mesmo e das coisas que eu perdi no caminho.
Sejam as que eu realmente perdi ou sejam as que foram roubadas.
Eu sinto falta de coisas que eu nem sei se existem mais.
E de coisas que eu tenho certeza que não existem mais.
Eu sinto minha falta.
Eu realmente sinto minha falta.
Não é meu, mas chegou até a minha pessoa sem o autor. Vai que um dia alguém lê isso aqui e saiba quem escreveu, pode me indicar.